PALAVRAIMAGEM - O encontro entre estações

Foto: Gabriela Canale

Passou toda viagem de trem procurando sinais da primavera, observando atentamente pela janela as bases dos muros que protegiam a linha férrea e além dos muros, até onde a vista alcançava, e tudo que conseguiu ver foram árvores secas, mato alto, o cinza comum, vermelho barro e o rosa dos tapumes de uma invasão desenfreada, que cresce dia após dia, com sentido e rumo a capital. Nada havia mudado naquele inicio de primavera
Naquela manhã o vagão estava lotado, restavam ainda quatro estações até seu desembarque, cansando da mesmice de todo dia, fechou os olhos e ficou a ouvir a máquina que avançava sobre o trilho e a sentir a brisa que vinha da janela...
O maquinista anuncia à quinta estação, alheio a tudo, continua de olhos fechados, ainda lhe restavam três estações, sabendo da rotina dos passageiros, acreditava que abrindo os olhos com certeza algumas pessoas ele conheceria de vista. Afinal havia completado há uma semana, três anos naquela mesma rotina.
Permanece de olhos fechados até que um doce aroma lhe interessa e o solavanco do trem lhe faz abrir os olhos e ao seu lado, ele vê a Primavera que na quinta estação subiu ao trem com um perfume doce e um vestido de chita.
A Primavera que ele buscava ver da janela durante o caminho apareceu desabrochada, estampada, colorida e perfumada ao seu lado e lendo um livro de contos de literatura portuguesa.
Ficou tão maravilhado, que não contou as estações e alheio a tudo desceu do vagão com olhos carregados de fascinio e adeus, duas paradas depois.
Voltou o olhar e acompanhou o trem seguir viagem levando a Primaveira.
conto: Vital Lordelo

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